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Luís Filipe Rodrigues

Luís Filipe Rodrigues

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Lido Pimienta: “Não é um projecto escolar. É a minha experiência de vida”

Lido Pimienta: “Não é um projecto escolar. É a minha experiência de vida”

Lido Pimienta nasceu na cidade colombiana de Barranquilla, perto do mar e das Caraíbas, em 1986. Apesar de viver há muitos anos no Canadá, nunca esqueceu as suas raízes e as músicas tradicionais que, desde 2010, funde com uma pop sintética e electrónica em discos cada vez mais ambiciosos, em que canta sobre o que sabe: as suas experiências enquanto mãe, mulher queer, afro-colombiana e de ascendência indígena. Miss Colombia, de 2020, é o mais recente álbum, mas já está a trabalhar num sucessor, sobre o qual prefere não revelar muitos detalhes. Antes dos concertos de quarta-feira, na ZDB, e do dia seguinte, no M.Ou.Co. (Porto), trocámos ideias sobre a música que produz e a histórica eleição do antigo guerrilheiro socialista Gustavo Petro para a Presidência do seu país natal. Disseste anteriormente que os ataques racistas ao apresentador afro-americano Steve Harvey, em 2015, depois de ele ter anunciado erradamente que a Miss Colômbia era a Miss Universo, apenas para lhe tirar a coroa passados uns minutos, te forçaram a ver a Colômbia de outra maneira. Como é hoje a tua relação com a tua terra-mãe?A maneira como os meus conterrâneos reagiram ao incidente que descreveste, no concurso Miss Universo 2015, tirou-me uma venda dos olhos. Até então, era como se estivesse cega. Romantizava a Colômbia, tal como a maior parte dos membros da diáspora que são forçados a abandonar o país. Quando estamos longe, temos saudades da nossa família, do nosso território e cultura, e e

Lido Pimienta: “Não é um projecto escolar. É a minha experiência de vida”

Lido Pimienta: “Não é um projecto escolar. É a minha experiência de vida”

Lido Pimienta nasceu na cidade colombiana de Barranquilla, perto do mar e das Caraíbas, em 1986. Apesar de viver há muitos anos no Canadá, nunca esqueceu as suas raízes e as músicas tradicionais que, desde 2010, funde com uma pop sintética e electrónica em discos cada vez mais ambiciosos, em que canta sobre o que sabe: as suas experiências enquanto mãe, mulher queer, afro-colombiana e de ascendência indígena. Miss Colombia, de 2020, é o mais recente álbum, mas já está a trabalhar num sucessor, sobre o qual prefere não revelar muitos detalhes. Antes dos concertos de quarta-feira, na ZDB, e do dia seguinte, no M.Ou.Co. (Porto), trocámos ideias sobre a música que produz e a histórica eleição do antigo guerrilheiro socialista Gustavo Petro para a Presidência do seu país natal. Disseste anteriormente que os ataques racistas ao apresentador afro-americano Steve Harvey, em 2015, depois de ele ter anunciado erradamente que a Miss Colômbia era a Miss Universo, apenas para lhe tirar a coroa passados uns minutos, te forçaram a ver a Colômbia de outra maneira. Como é hoje a tua relação com a tua terra-mãe?A maneira como os meus conterrâneos reagiram ao incidente que descreveste, no concurso Miss Universo 2015, tirou-me uma venda dos olhos. Até então, era como se estivesse cega. Romantizava a Colômbia, tal como a maior parte dos membros da diáspora que são forçados a abandonar o país. Quando estamos longe, temos saudades da nossa família, do nosso território e cultura, e esquecemos

Duran Duran: “Nunca quisemos ficar presos ao passado”

Duran Duran: “Nunca quisemos ficar presos ao passado”

O Rock in Rio está de volta a Lisboa. Os Muse foram os cabeças de cartaz do primeiro dia, 18 de Junho, os Black Eyed Peas destacaram-se no passado domingo, 19, e Post Malone vai encerrar as festividades a 26 de Junho. Mas o espectáculo mais aguardado é capaz de ser o dos Duran Duran, banda crucial da pop dos anos 80 e o nome cimeiro deste sábado, 25. Antes do concerto, falámos com o baterista Roger Taylor sobre o álbum Future Past, do ano passado, e o legado do grupo. Os Duran Duran estão juntos há mais de 40 anos. Alguns membros entraram e saíram, mas a banda nunca parou de tocar e de lançar nova música. Qual é o segredo?Ainda no outro dia estava a falar disto com o meu filho. Tivemos muitas bandas boas nos anos 80, porém a maioria ficou pelo caminho – deixaram de fazer música ou prosseguiram, mas sem a mesma qualidade. Nós tivemos a sorte de continuar a trabalhar bem porque nunca parámos de experimentar e abraçar novos projectos. Acho que o nosso segredo é esse: sempre evitámos fazer mais do mesmo, e continuámos a desafiar-nos. Passaram mais de seis anos entre a edição do anterior Paper Dogs (2015) e do último Future Past (2021). Nunca tinham estado tanto tempo sem editar um disco novo. O que se passou?Estamos numa fase das nossas carreiras em que nos podemos dar ao luxo de demorar o tempo que queremos a trabalhar num álbum, até garantirmos que está óptimo. Somos um bando de perfeccionistas. E, desta vez, ainda perdemos mais algum tempo por causa da pandemia. Houve alturas,

Pavement e mais dez concertos a não perder no NOS Primavera Sound

Pavement e mais dez concertos a não perder no NOS Primavera Sound

Já tínhamos saudades de um grande festival. Vamos poder matá-las na quinta-feira, 9 de Junho, quando o NOS Primavera Sound regressar ao Parque da Cidade, depois de dois anos de ausência pelos motivos que se sabem. Estão confirmados 65 nomes, entre músicos, bandas e DJs, mas um deles distingue-se dos demais: Pavement. O lendário (e reunido) grupo de indie rock americano era o maior nome da edição cancelada em 2020 e continua a sê-lo agora. Mas há mais coisas boas para ver, do reggaeton e trap latino de Jhay Cortez ao pós-hardcore dos Jawbox e do rock fúnebre de Nick Cave & The Bad Seeds ao hip-hop de Earl Sweatshirt, passando pela hyperpop dos 100 gecs. Fazemos um roteiro pelos três dias do festival, evitando sempre que possível as sobreposições – uma missão quase impossível quando somos confrontados com um cartaz destes, que nos obriga constantemente a fazer escolhas e a abdicar de um concerto para ver outro à mesma hora. Tomara que Sky Ferreira (Qui 20.30) nos perdoe. E os Shellac (Sex 20.10). E os Interpol (Sáb 22.30). Recomendado: Vasco Coelho Santos e Mauricio Ghiglione preparam menu exclusivo no NOS Primavera Sound

As canções andaluzas de Sean Riley (e The Legendary Tigerman)

As canções andaluzas de Sean Riley (e The Legendary Tigerman)

Afonso Rodrigues, o cantor, compositor e líder de banda que conhecemos como Sean Riley, e Paulo Furtado, o carismático rockeiro com coração de bluesman que veste a pele de The Legendary Tigerman, são amigos de longa data. Uma amizade que, em 2018, se traduziu em California, o primeiro disco a solo de Sean Riley, gravado por Paulo Furtado durante uma road trip que ambos fizeram por aquele estado americano, e que agora voltou a dar-nos um disco-viagem, Andaluzia, nascido em plena pandemia no sul de Espanha.  Desta vez, Furtado não foi apenas produtor. Fez os arranjos, tocou em todas as faixas e, por isso, o nome do seu alter-ego felino surge na capa do disco. E, também por isso, Paulo quer tocar estas canções ao vivo com Afonso sempre que a agenda o permita. Sabe, porém, que não vai ser fácil. É um homem ocupado. Na passada quinta-feira, na ZDB (Lisboa), The Legendary Tigerman teve de faltar ao chamamento, porque já tinha outro concerto marcado. Mas nesta quinta, 2 de Junho, no Passos Manuel, talvez se junte a Sean Riley. Não sabe ainda, mas “gostava muito”. O teu primeiro disco a solo foi gravado na Califórnia, durante uma road trip com o Paulo Furtado. Agora fizeram um disco na Andaluzia. Porque decidiram ir para lá?Afonso Rodrigues: Na verdade, a minha primeira proposta até foi Tânger. Porque o disco dos Estados Unidos estava muito ligado à beat generation, pelo facto de ser uma coisa on the road, pelo itinerário que fizemos, e pela própria temática

Maria Reis: “Muitas vezes, não sei o que estou a fazer”

Maria Reis: “Muitas vezes, não sei o que estou a fazer”

Desde 2011 que acompanhamos, nestas páginas e fora delas, a carreira de Maria Reis. Com a irmã Júlia, nas Pega Monstro; com o primo Lourenço Crespo, em 100 Leio; com os amigos de infância e adolescência, n’Os Passos em Volta; até fora da Cafetra e do lugar de compositora, durante a sua breve passagem pelos Gala Drop; e nos últimos anos a solo, fomos escutando e escrevendo sobre a sua música. Vimo-la e ouvimo-la a crescer, a alargar horizontes, a apurar a lírica e a composição, a impor-se como uma das melhores escritoras de canções que este país já teve, independentemente do género. Benefício da Dúvida, o quarto registo a solo, entre mini-álbuns e EPs, é o mais recente marco de uma carreira que não dá sinais de perder o fôlego, a inventividade, a relevância. Houve quem lhe chamasse um “álbum pós-traumático”, antes sequer de o podermos ouvir. Mas não é isso que as suas sete canções revelam. E a própria Maria Reis não concorda com a adjectivação. “Acho que [se] escreveu isso por eu falar muito sobre a minha instabilidade emocional”, sugere Maria, nos primeiros minutos de uma longa conversa. “Mas não acho que seja pós-traumático.” Não parece sê-lo, concordamos. Foi, porém, feito no limite, e até possivelmente à beira de um burnout que ficou por diagnosticar. “Não quero estar a dizer que estive mesmo ou que estava à beira de um burnout quando no fundo nunca fui diagnosticada com isso. Mas de facto estava a sentir bastante a pressão.” A síndrome de burnout é, de um modo geral, inco

Maria Reis: “Muitas vezes, não sei o que estou a fazer”

Maria Reis: “Muitas vezes, não sei o que estou a fazer”

Desde 2011 que acompanhamos, nestas páginas e fora delas, a carreira de Maria Reis. Com a irmã Júlia, nas Pega Monstro; com o primo Lourenço Crespo, em 100 Leio; com os amigos de infância e adolescência, n’Os Passos em Volta; até fora da Cafetra e do lugar de compositora, durante a sua breve passagem pelos Gala Drop; e nos últimos anos a solo, fomos escutando e escrevendo sobre a sua música. Vimo-la e ouvimo-la a crescer, a alargar horizontes, a apurar a lírica e a composição, a impor-se como uma das melhores escritoras de canções que este país já teve, independentemente do género. Benefício da Dúvida, o quarto registo a solo, entre mini-álbuns e EPs, é o mais recente marco de uma carreira que não dá sinais de perder o fôlego, a inventividade, a relevância. Houve quem lhe chamasse um “álbum pós-traumático”, antes sequer de o podermos ouvir. Mas não é isso que as suas sete canções revelam. E a própria Maria Reis não concorda com a adjectivação. “Acho que [se] escreveu isso por eu falar muito sobre a minha instabilidade emocional”, sugere Maria, nos primeiros minutos de uma longa conversa. “Mas não acho que seja pós-traumático.” Não parece sê-lo, concordamos. Foi, porém, feito no limite, e até possivelmente à beira de um burnout que ficou por diagnosticar. “Não quero estar a dizer que estive mesmo ou que estava à beira de um burnout quando no fundo nunca fui diagnosticada com isso. Mas de facto estava a sentir bastante a pressão.” A síndrome de burnout é, de um modo geral, inco

As canções andaluzas de Sean Riley (e The Legendary Tigerman)

As canções andaluzas de Sean Riley (e The Legendary Tigerman)

Afonso Rodrigues, o cantor, compositor e líder de banda que conhecemos como Sean Riley, e Paulo Furtado, o carismático rockeiro com coração de bluesman que veste a pele de The Legendary Tigerman, são amigos de longa data. Uma amizade que, em 2018, se traduziu em California, o primeiro disco a solo de Sean Riley, gravado por Paulo Furtado durante uma road trip que ambos fizeram por aquele estado americano, e que agora voltou a dar-nos um disco-viagem, Andaluzia, nascido em plena pandemia no sul de Espanha.  Desta vez, Furtado não foi apenas produtor. Fez os arranjos, tocou em todas as faixas e, por isso, o nome do seu alter-ego felino surge na capa do disco – primeiro Sean Riley, claro, em letras maiores; depois “w/ The Legendary Tigerman”, em letras mais pequenas. E, também por isso, Paulo quer tocar estas canções ao vivo com Afonso sempre que a agenda o permita. Sabe, porém, que não vai ser fácil. É um homem ocupado. Por exemplo, esta quinta-feira, na ZDB, The Legendary Tigerman não vai poder subir ao palco, porque tem outro concerto marcado. Mas na próxima quinta, 2 de Junho, no Passos Manuel (Porto), talvez se junte a Sean Riley – não sabe ainda, mas “gostava muito”. O teu primeiro disco a solo foi gravado na Califórnia, durante uma road trip com o Paulo Furtado. Agora fizeram um disco na Andaluzia. Porque decidiram ir para lá?Afonso Rodrigues: Na verdade, a minha primeira proposta até foi Tânger. Porque o disco dos Estados Unidos estava muito ligado à beat gener

Filho da Mãe: “É difícil distinguir a realidade do seu reflexo”

Filho da Mãe: “É difícil distinguir a realidade do seu reflexo”

Rui Carvalho, o músico que se auto-intitula Filho da Mãe, passou a última década a dedilhar uma guitarra acústica. Mas as suas escolas foram o rock, o punk, o hardcore, e a guitarra eléctrica foi o primeiro instrumento que o ouvimos tocar, em bandas como If Lucy Fell ou I Had Plans. No seu novo disco, Terra Dormente, além da guitarra clássica, voltou a pegar na eléctrica – e, simultaneamente, começou a segurar o mesmo instrumento em Linda Martini. À boleia do Dia Estudante da Culturgest, na terça, 17, falámos sobre os “dois mundos” em que caminhou e gravou nos últimos dois anos. A primeira coisa que chama a atenção neste disco é a guitarra eléctrica, que era o que tocavas em bandas como os If Lucy Fell. O que te levou a voltar a esse instrumento?Foi um instrumento que nunca abandonei completamente. Fui sempre tocando guitarra eléctrica. Tenho um disco chamado Tormenta... Com o Ricardo Martins.Exacto. Que é todo feito em guitarra eléctrica. Mas é verdade que, para mim, Filho da Mãe era um projecto mais acústico – apesar de usar muitos pedais. Já há muito tempo que podia ter introduzido a guitarra eléctrica, só que fui separando as coisas, por alguma razão. E porque achaste agora que era altura de introduzir a guitarra eléctrica na equação?A guitarra eléctrica traz outro tipo de valências. Tem um som diferente, até pela forma como se compatibiliza com os efeitos. Com o tempo, comecei a achar que era uma boa ideia trazê-la para um disco e explorar uma dualidade entre dois instru

Sonic Boom: “Precisamos de fazer um reset depois destes dois anos”

Sonic Boom: “Precisamos de fazer um reset depois destes dois anos”

Pete Kember, mais conhecido por Sonic Boom, é um nome histórico do rock e da música experimental anglo-americana. Muito do seu legado assenta na música que fez com os Spacemen 3 entre 1982 e 1991, ao lado de J. Spaceman (ou Jason Pierce, o senhor dos Spiritualized), mas o seu trabalho desde a separação da histórica banda de rock espacial é igualmente importante. Seja o psicadelismo dos Spectrum ou a electrónica exploratória de Experimental Audio Research, incluindo colaborações com nomes de culto como Silver Apples ou Delia Derbyshire, da BBC Radiophonic Workshop, ou ainda o seu trabalho de produção e mentoria de músicos de uma geração posterior, como Panda Bear, Beach House ou MGMT, tudo o que ele fez importa e continua a fazer ondas. Ainda não tínhamos falado com ele desde que veio viver para Portugal há meia dúzia de anos – a última conversa com a Time Out Lisboa foi em 2014 – e aproveitámos uma actuação no Cosmos para dar dois dedos de conversa. Assim que nos sentamos num café da Praça da Flores, ainda com o gravador desligado, o palavreado começa a fluir. Pete parece entusiasmado com um novo projecto, que define como uma espécie de clube social, e vai ocupar o espaço do Santo, um restaurante na Praia das Maçãs, duas vezes por mês. O objectivo é juntar e formar laços entre a comunidade internacional que se mudou para Sintra nestes últimos anos, mas todos são bem-vindos. Passado uns minutos, porém, muda de assunto. “Estamos aqui para falar do meu set no Cosmos. É melhor co

Sereias: “A vida não se pode resumir ao comércio e ao trabalho”

Sereias: “A vida não se pode resumir ao comércio e ao trabalho”

Na mitologia, as sereias são criaturas híbridas, normalmente meio mulheres, meio peixes. Na música portuguesa, os Sereias são igualmente híbridos, mas de punk-rock e free-jazz. É, obviamente, uma simplificação – nas suas canções o punk está presente sobretudo em espírito; há ecos do psicadelismo electrónico dos Silver Apples, do krautrock dos Can, do pós-punk dos Pere Ubu, do rock industrial dos Swans – mas termos como punk-jazz ou free-rock são bons atalhos para descrever o que se ouve nos seus dois álbuns, O País A Arder, de 2019, e o recém-editado disco homónimo ou, nas palavras da banda, “sem título”. O colectivo de geometria variável – há membros que entram e saem, com liberdade e sem compromissos – devia ter começado a apresentar as novas e incendiárias canções há dez dias, só que um surto de gripe obrigou a cancelar umas datas e a adiar outras. Em princípio, devem finalmente iniciar a tour no domingo à tarde, na Sala Estúdio Perpétuo (Porto). Ainda não se sabe quando vão remarcar o concerto de apresentação no Musicbox (Lisboa). O novo álbum não destoa do que veio antes. Estão lá todas as influências anglo-saxónicas evocadas no parágrafo anterior e mais algumas, como os Mão Morta, de quem os Sereias podiam ser bastardos a quem deram um saxofone (e cujo vocalista, Adolfo Luxúria Canibal, assina o texto de apresentação do disco). O seu som é um espelho dos interesses de sete músicos – João Pires na bateria, Tommy Hughes no baixo, Sérgio Rocha na guitarra, Nils Meisel nos

Sereias: “A vida não se pode resumir ao comércio e ao trabalho”

Sereias: “A vida não se pode resumir ao comércio e ao trabalho”

Na mitologia, as sereias são criaturas híbridas, normalmente meio mulheres, meio peixes. Na música portuguesa, os Sereias são igualmente híbridos, mas de punk-rock e free-jazz. É, obviamente, uma simplificação – nas suas canções o punk está presente sobretudo em espírito; há ecos do psicadelismo electrónico dos Silver Apples, do krautrock dos Can, do pós-punk dos Pere Ubu, do rock industrial dos Swans – mas termos como punk-jazz ou free-rock são bons atalhos para descrever o que se ouve nos seus dois álbuns, O País A Arder, de 2019, e o recém-editado disco homónimo ou, nas palavras da banda, “sem título”. O colectivo de geometria variável – há membros que entram e saem, com liberdade e sem compromissos – devia ter começado a apresentar as novas e incendiárias canções há dez dias, só que um surto de gripe obrigou a cancelar umas datas e a adiar outras. Em princípio, devem finalmente iniciar a tour no domingo à tarde, na Sala Estúdio Perpétuo.  O novo álbum não destoa do que veio antes. Estão lá todas as influências anglo-saxónicas evocadas no parágrafo anterior e mais algumas, como os Mão Morta, de quem os Sereias podiam ser bastardos a quem deram um saxofone (e cujo vocalista, Adolfo Luxúria Canibal, assina o texto de apresentação do disco). O seu som é um espelho dos interesses de sete músicos – João Pires na bateria, Tommy Hughes no baixo, Sérgio Rocha na guitarra, Nils Meisel nos teclados, Ra-Yacov nos sopros, António Pedro Ribeiro e Arianna Casellas nas vozes – de diferen

Listings and reviews (20)

Sortidos MIL

Sortidos MIL

Ainda falta mais de meio ano para a próxima edição do MIL. Mas, para assinalar o início das candidaturas de artistas para o festival de 2020, o Musicbox decidiu fazer uma espécie de MIL em ponto pequeno, com artistas emergentes do continente europeu. A primeira a subir ao palco, no sábado, será a harpista portuguesa Carolina Caramujo (na foto), que se encontra a gravar o primeiro álbum a solo, com lançamento previsto para Novembro. Segue-se a cantora e compositora indie catalã Núria Graham, que editou em 2017 o disco Does it Ring a Bell? por El Segell del Primavera. Depois é a vez de GENTS, duo dinamarquês de synthpop romântica e nostalgica, cujo novo álgum Humam Connection, deve sair a 11 de Outubro. O último concerto da noite é o de Kukla, cantora eslovena de turbo-pop. Depois há Dj sets de Dinamarca, que apesar do nome é chileno e vive na Suécia, e do português Progressivu.

Built To Spill

Built To Spill

Os Built to Spill ajudaram a definir e a expandir o som do indie rock americano nos anos 90. Liderados por Douglas G. Martsch, cantor, herói da guitarra, principal compositor e único membro permanente do grupo ao longo das décadas, gravaram temas que se tornaram clássicos da canção eléctrica americana e álbuns que mais parecem monumentos, cuja influência foi quase imediata e se continua a sentir. Discos como There’s Nothing Wrong With Love (1993) um disco de indie-pop de guitarras, áspero, conciso e com o coração na lapela, sem o qual os primeiros (e bons) trabalhos dos Death Cab For Cutie nunca teriam existido. Ou Perfect From Now On (1997), o terceiro álbum e o primeiro com o selo da multinacional Warner, com as suas canções paisagísticas e cordilheiras de guitarras que se confundiam com o mapa americano e nas quais escutávamos pontos de contacto com o que os contemporâneos Modest Mouse estavam a fazer. Ou Keep It Like A Secret (1999), o terceiro clássico consecutivo e combinação quase perfeita entre a abordagem mais directa do disco de 1993 com a epicidade do seu sucessor. É precisamente Keep It Like A Secret que ouviremos esta quarta-feira na Zé dos Bois, Um segredo mal guardado depois dos concertos de Oruã e Shaolin Soccer. Doug Martsch e companhia têm celebrado ao vivo os 20 anos do disco, e um dia antes de actuarem no NOS Primavera Sound trazem a Lisboa os segredos mal guardados que são as suas canções. Não faltará nenhuma. Desde clássicos indie efusivos como “The Plan

Ciclo Maternidade

Ciclo Maternidade

Vários artistas da Maternidade vão desfilar pelo palco do Auditório Municipal António Silva, no Cacém, entre sexta-feira e sábado: Filipe Sambado, Bejaflor, Catarina Branco, Aurora Pinho e Vaiapraia. O convite partiu do teatromosca, mas a promotora teve “carta branca” para fazer o que quisesse, garante o cantor e compositor Filipe Sambado. “Optámos por ter só concertos de bandas associadas à Maternidade porque nunca tocámos no Cacém. Nenhum de nós”, diz Rodrigo Araújo, vulgo Vaiapraia, outro dos mentores da agência. Desde finais de 2014 que a promotora Maternidade dá música a Lisboa e ao resto do país. Além de agenciar cantores como Luís Severo, Filipe Sambado e Vaiapraia, entre outros, teve durante muito tempo
uma mensalidade nas Damas, onde deu
a conhecer inúmeros e bons músicos independentes portugueses (chegou recentemente ao fim), e ao longo dos anos trouxe várias bandas estrangeiras a Portugal, em muitos casos pela primeira vez. No Ciclo Maternidade deste fim-de-semana, os concertos começam às quatro da tarde de sexta-feira, na estação ferroviária do Rossio, onde vai actuar a cantora/ compositora indie Catarina Branco, que editou o primeiro EP, ‘Tá Sol, este ano.
 O cantor e produtor de pop caseirinha e electrónica Bejaflor, que se estreou com um belo disco homónimo no ano passado, é o segundo a tocar, a partir das nove no Auditório Municipal António Silva. A noite termina com Filipe Sambado (na foto). “Naquele belo formato solo, muito comunicativo, de guitarra ao peito

Paião

Paião

João Pedro Coimbra, Nuno Figueiredo, Jorge Benvinda, Marlon e VIA são os Paião. E, como o nome sugere, interpretam canções escritas e cantadas por Carlos Paião, um dos maiores nomes da pop portuguesa da década de 80. Depois de um primeiro concerto, no ano passado, durante o Festival da Canção, e da edição de um CD, chamado apenas Paião, apresentam-se ao vivo no Capitólio.

José Pinhal Post-Mortem Experience/ Catarina Branco/ Sreya/ Japo

José Pinhal Post-Mortem Experience/ Catarina Branco/ Sreya/ Japo

Durante muito tempo, a Noite às Novas foi uma das bonitas noites (passe a redundância) da Zé dos Bois. Uma espécie de baile de debutantes em que artistas mais ou menos desconhecidos se davam a conhecer, e por onde ao longo dos anos passou uma legião de gente boa, de Norberto Lobo a Alek Rein ou a Sallim. Entretanto o nome caiu em desuso ali para os lados da rua da Barroca, apesar de a ZDB ter continuado a revelar novos valores e, ocasionalmente, até a juntá-los todos numa só sessão. É o que vai mais uma vez acontecer na sexta-feira. Porque, apesar de o velho nome não ser usado, a ideia é mais ou menos a mesma. Há a recriação do repertório de José Pinhal, nome mais ou menos desconhecido da música ligeira do Norte de Portugal, pela José Pinhal Post-Mortem Experience, que agrega músicos da Favela Discos e dos Equations, e recria o repertório do cantor com destreza e músculo, mas sem qualquer ironia. Pela primeira vez em Lisboa. Vai ouvir-se também a indie-pop caseirinha de Catarina Branco, que vai apresentar o EP de estreia acompanhada pela sua banda. E as canções pop fora do baralho e difíceis de compartimentar de Sreya, que já ouvimos em Lisboa em mais do que uma ocasião e cujo primeiro disco, Emocional, tem mão de Conan Osiris. Depois dos concertos, há um DJ set de JAPO, vulgo Menino da Mãe, vulgo Bernardo Bertrand, pronto para nos fazer dançar com a sua electrónica.

12 anos do Musicbox

12 anos do Musicbox

12 Anos. O número pode não ser redondo, mas não é por isso que o Musicbox não vai assinalar a data com a pompa do costume. As comemorações arrancam pelas 21.30 de quinta-feira, com a habitual entrega de presentes em forma de música gratuita. Neste caso, concertos de Pedro Mafama, cantor e produtor de uma música portuguesa difícil de delimitar, com tanto fado como hip-hop; do duo Môrus, de Alexandre Moniz e Jorge Barata; e dos Sunflowers (na foto), banda portuense de garage-punk com tensão psicadélica. Segue-se, à meia-noite e meia de quinta para sexta-feira, o ponto alto das festividades, a estreia em território nacional de Ms Nina, nome de proa do perreo espanhol, a trabalhar nos campos do trap e do reggaeton mais liberto e futurista. No país aqui ao lado, anda há uns anos a meter o público a dançar com a sua música sugestiva e abertamente sexualizada, mas positiva, questionando ideias heteronormativas de género e domínio. O regresso aos palcos dos Sensible Soccers, agora com uma nova formação, está marcado para sexta-feira. A banda portuguesa vai mostrar as novas composições a incluir num eventual sucessor de Villa Soledade, álbum de 2016 que sintetiza com mestria a vastidão electrónica, ensinamentos krautrock e a synthpop oitentista. Conhecendo o historial deles, o mais certo é vir aí coisa boa. Depois do concerto dos Sensible Soccers, na sexta-feira, a festa continua com Nuno Lopes, sem dúvida o melhor DJ português que também é um actor conhecido, e Dupplo, que é como que

Kiss/ Megadeth

Kiss/ Megadeth

Os Kiss são mais conhecidos do que a música que fazem. Gene Simmons, Paul Stanley e companhia – Tommy Thayer na guitarra e Eric Singer na bateria completam a actual formação, nos lugares e pinturas faciais dos históricos Ace Frehley e Peter Criss – andam nisto desde 1973 e são lendas do hard rock, todavia são mais as pessoas 
que reconhecem as suas caras maquilhadas, as vestes de cabedal e aquela língua do que as que conseguem trautear um par de canções deles. Parece estranho, mas é apenas o reflexo da maneira como a banda superou as limitações da sua música, de nicho, e se tornou uma instituição da cultura popular do Ocidente. Os autores de “I Was Made for Lovin’ You” (a mais conhecida canção dos Kiss, que nem sempre é tocada ao vivo) partilham o cartaz com os Megadeth, que garantiram ainda na década de 80 o seu lugar no pódio do thrash metal californiano e continuam aí para as curvas. Dystopia, de 2016, é o mais recente disco da banda de Dave Mustaine.

Meatbodies

Meatbodies

O nome de Chad Ubovich confunde-se com os Meatbodies, a banda que lidera e à qual já emprestou o nome. Confunde-se também com algum do melhor garage rock californiano dos últimos anos – antes dos Meatbodies, tocou na banda de Mikal Cronin e continua a acompanhar esse ícone garageiro que é Ty Segall, 
nos Fuzz. Mas concentremo-nos nos Meatbodies, que regressam ao MusicBox no sábado e no dia seguinte fazem das suas no festival Milhões de Festa. Editaram este ano Alice, álbum conceptual cuja lírica 
é indecifrável, mas cuja música não desilude: garage rock distorcido, com psicotrópicos à solta na corrente sanguínea. Tão violento como inspirador. Revigorante.

The Divine Comedy

The Divine Comedy

Entre os muitos que já tentaram fazer da música pop uma amálgama de ideias clássicas com sensibilidades modernas, poucos o conseguiram com a imaginação de Neil Hannon. A música dos seus Divine Comedy é um universo sumptuoso de pop orquestral enlaçada com destreza lírica. Mãos menos hábeis não saberiam conferir tanta elegância aos floreados teatrais que ornamentam a sua música, mas Neil Hannon é uma criatura rara, um compositor tão inteligente quanto galhofeiro. Foreverland, aventura-se no mundo romantizado da mundanidade, serpenteado por cordas e sopros. Louva a extraordinariedade dos quotidianos mais vulgares, pintados com referências históricas, melodias sensoriais, letras laboriosas e um coração pop sempre a palpitar. Com referências que vão desde Catarina, a Grande, à Legião Estrangeira Francesa, mas sem deixar de ser um álbum disfarçadamente autobiográfico sobre aquilo que vem depois do “felizes para sempre”. Mesmo quando escreve de forma mais dissimulada, autodepreciativa ou espirituosa, Neil Hannon só escreve canções de amor. É um romântico incurável, que se há-de fazer?

Night Lovell

Night Lovell

O prodigioso rapper e produtor canadiano Night Lovell estreia- -se ao vivo na Zé dos Bois mais perto do final do mês. Apresenta o álbum do ano passado, Red Teenage Melody.

Peixe: Avião

Peixe: Avião

Os Peixe: Avião reinventam-se de disco para disco. No mais recente, Peso Morto, lançado no princípio de 2016, aprofundam a subversão do formato canção tradicional. Para a semana tocam na Galeria Zé dos Bois.

News (312)

Jorge Palma vai revisitar toda a discografia em seis concertos

Jorge Palma vai revisitar toda a discografia em seis concertos

Jorge Palma lançou o primeiro single há 50 anos. José Niza produziu, a Orfeu editou, e Jorge Palma cantou e tocou um par de canções: “The Nine Billion Names Of God” no lado a – com um título descaradamente roubado a Arthur C. Clarke – e “Come, Morpheus” no lado b. Para assinalar a data, vai revisitar todos os momentos da sua carreira ao longo de meia dúzia de concertos em Lisboa. O primeiro espectáculo, marcado para 25 de Setembro nos Jardins do Palácio Baldaya, em Benfica, vai centrar-se exclusivamente em Só, disco de 1991 onde imortalizou algumas das suas mais amadas canções num registo cru e despojado – só a sua voz e as teclas do piano. Seguem-se quatro datas no Teatro Tivoli BBVA, onde vai tocar as canções dos seus 12 álbuns de inéditos e outro material espalhado por singles e EPs. Começa a 7 de Outubro, centrado em Com Uma Viagem na Palma da Mão (1975), 'Té Já (1977) e Qualquer Coisa Pá Música (1979). Depois de uma pausa, no dia 26, vai recordar Acto Contínuo (1982), Asas e Penas (1984) e Lado Errado da Noite (1985). Nem uma semana depois, a 1 de Novembro, atira-se a Quarto Minguante (1986), Bairro do Amor (1989) e É Proibido Fumar (2001). Por fim, a 8, é a vez de Norte (2004), Voo Nocturno (2007) e Com Todo o Respeito (2011). A maratona de concertos termina a 19 de Novembro, com a reunião do Palma’s Gang no Cineteatro Capitólio. Acompanhado por Alex, Flak e Kalú, o cantautor vai injectar (mais) rock nas suas canções. Os bilhetes já estão à venda online e nos locais hab

Panda Bear e Sonic Boom gravaram um disco juntos. E vamos ouvi-lo pela primeira vez em Lisboa

Panda Bear e Sonic Boom gravaram um disco juntos. E vamos ouvi-lo pela primeira vez em Lisboa

Há uns meses, Pete Kember, ou Sonic Boom, dizia que “precisávamos de fazer um reset depois destes dois anos”. Dentro de nem um mês vamos tê-lo. O Reset de que se aqui se fala é um álbum colaborativo de Panda Bear e Sonic Boom, cúmplices musicais desde há mais de uma década e ambos portugueses adoptivos, gravado durante o pico da pandemia quase como um feitiço ou pelo um antídoto para combater a melancolia pandémica. O lançamento oficial está marcado para 12 de Agosto, mas vai ser possível ouvir o disco de uma ponta à outra na sexta, 29 de Julho, no Cosmos. Não são só as canções de Reset que se vão escutar nesta listening party. As portas abrem às seis da tarde e só se vai parar de ouvir música à meia-noite. “Eu e o Noah [Lennox, vulgo Panda Bear] convidámos a Lizatron, uma DJ russa que vive em Lisboa, o Idle Rich, um DJ inglês que também trabalha com ela, e o Ricardo Grüssl, que costuma parar no Cosmos, para passarem música connosco”, partilha Sonic Boom. “Pedimos a cada um para escolher um álbum que fosse incrível de uma ponta à outra, e vamos deixar esses discos a tocar, enquanto as pessoas convivem.” A ideia é cada um dos intervenientes passar o seu disco e, por fim, meter-se no gira-discos o Reset de Panda Bear e Sonic Boom, que será, quase de certeza, acompanhado pela exibição de vídeos inéditos. Será o ponto alto da noite. “Talvez. Ou pelo menos gostava que fosse. Mas não sei que discos é que os outros vão meter a tocar”, brinca Pete Kember. “O que posso é dizer-te que 

O MIL e músicos de todo o mundo voltam ao Cais do Sodré este ano

O MIL e músicos de todo o mundo voltam ao Cais do Sodré este ano

O MIL foi um dos primeiros eventos nacionais afectado pela pandemia em 2020. Estava tudo pronto para uma edição histórica, acompanhada pelo lançamento de uma nova revista de reflexão e teoria crítica editada por Mariana Duarte (ex-jornalista desta casa), mas o cancelamento foi anunciado a duas semanas do previsível início, em Março. Desalentada, a organização não baixou os braços. Passado um ano e meio, e ainda com os bares onde o MIL sempre tinha acontecido fechados, o festival realojou-se no Hub Criativo do Beato. As restrições pandémicas estavam a amansar, foram três dias de liberdade e música. E neste Setembro, um ano depois, o MIL vai voltar a ser o que era. Ou seja, o MIL vai voltar a sair para as ruas e bares do Cais do Sodré e a ser uma feliz barafunda de corpos que se esbatem com copos nas mãos, enquanto saltam de sala em sala em busca do novo (e do menos novo). Só não vai ser uma total ruptura com a edição do ano passado porque continua a desenrolar-se em Setembro, mais concretamente entre os dias 28 e 30, e porque a convenção de música, com workshops, debates e oportunidades de networking, mais virada para os profissionais do sector mas aberta a todos os interessados, vai continuar a realizar-se no Hub Criativo do Beato. Sobre os conferencistas, a organização ainda não tem muito para contar. Mas vão discutir-se políticas culturais, o futuro do sector musical e da economia nocturna, bem como acessibilidade e sustentabilidade. Haverá também “duas residências artístic

O Super Bock Super Rock este ano resume-se a um nome: C. Tangana

O Super Bock Super Rock este ano resume-se a um nome: C. Tangana

Quando C. Tangana se estreou ao vivo em Portugal, em Fevereiro de 2019, alertámos para a dimensão do acontecimento nestas páginas. Na altura, o nome estava longe de estar nas bocas de tanto mundo como hoje, mas já era suficientemente falado para encher uma sala do Cais do Sodré. Três anos, uma pandemia e um daqueles álbuns que fazem uma carreira depois, reencontramo-nos com ele. Agora no topo do cartaz do segundo dia do Super Bock Super Rock, esta sexta-feira, 15, menos rapper, menos machão, mais pop, mais emotivo e aberto ao mundo. Quase como um xamã que guarda dentro de si – e partilha com todos aqueles que o ouvem – anos e anos de músicas espanholas e do continente sul-americano. C. Tangana sempre gostou de partilhar o que tinha – palavras e canções que pegam fogo nas plataformas de streaming. Foi esse gosto pela partilha de músicas e de ideias que lhe valeu os primeiros Grammys da carreira, por ter escrito com a sua ex-namorada Rosalía a maior parte das canções de El Mal Querer (2018), o segundo álbum da cantora espanhola. E que o levou a editar uma mixtape repleta de convidados, como Avida Dollars, também de 2018, onde a palavra “featuring” (ou, em espanhol, “con”) se lia no final de todos os títulos. Todavia em El Madrileño, álbum-charneira do ano passado, levou essa tendência para partilhar ideias ainda mais longe – além do habitual co-conspirador Alizz, que co-produziu o disco com ele, os créditos são uma espécie de quem é quem da música latina ao longo das décadas. E

As Noites de Verão da Filho Único voltam a abrir Lisboa ao mundo

As Noites de Verão da Filho Único voltam a abrir Lisboa ao mundo

O mais vasto e ambicioso programa de Noites de Verão da Filho Único arranca já na terça-feira, 5 de Julho, com a inauguração, na Galeria ZDB, da instalação sonora O Nosso Pão, de Björn Torske e DJ Nigga Fox. E só termina a 3 de Setembro, data das actuações de Alexander von Schlippenbach, pianista determinante do free-jazz europeu, e outros artistas no Goethe-Institut. Pelo meio, passa pelos jardins das Galerias Municipais – Quadrum, do Museu de Lisboa – Palácio Pimenta e do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, e pelo Anfiteatro de Pedra, na Tapada da Ajuda. Mas vamos com calma. Como escrevemos, o programa arranca esta terça-feira, 5, na Zé dos Bois. Só que a inauguração de O Nosso Pão, pelas 19.00, é apenas o primeiro capítulo de uma parceria que se espraia por mais dois dias. O produtor norueguês de música electrónica Bjørn Torske e o luso-angolano DJ Nigga Fox, um dos inovadores da batida de Lisboa dada a conhecer ao mundo pela Príncipe, reencontram-se um dia depois, na mesma galeria, para um painel e conversa com Suze Ribeiro e Balint Laczko. Por fim, às 22.00 de quinta-feira, 7 de Julho, Bjørn Torske e DJ Nigga Fox passam música juntos na sala do Bairro Alto. No dia seguinte, 8 de Julho, as Noites de Verão recuperam o formato dos últimos anos, com actuações ao final da tarde, todas as sexta-feiras, com entrada e música livre. Primeiro, dá-se um encontro inédito em palco entre Herlander, Cookie Jane e Menino da Mãe, com a DJ King Kami a juntar as pontas. Depois

Os Beach Boys e outros artistas vão desfilar pelos Jardins do Marquês

Os Beach Boys e outros artistas vão desfilar pelos Jardins do Marquês

Os festivais voltaram a fazer parte do nosso Verão. Já não era sem tempo. Na sexta-feira, 1 de Julho, The Beach Boys inauguram o Festival Jardins do Marquês – Oeiras Valley. É verdade que não está certo chamar The Beach Boys a um grupo onde não toca um único homem com o apelido Wilson, contudo, num mundo em que há tanta coisa errada, acaba por ser inevitável. O primo Mike Love é o único membro que resta da formação original e interpreta os êxitos estivais dos californianos no primeiro dia do Festival Jardins do Marquês, acompanhado por outro veterano, Bruce Johnston, que está com a banda desde os 60s, e os mais novos Brian Eichenberger, Scott Totten, Christian Love, Tim Bonhomme, John Cowsill, Keith Hubacher e Randy Leago. Mike Love y sus muchachos – perdão, e os seus Beach Boys – não vêm sozinhos. Os portugueses Taxi e os residentes Roda de Dois também tocam nos jardins do Palácio Marquês de Pombal na sexta-feira. O Festival Jardins do Marquês regressa no domingo, depois de um dia de pausa que coincide com o arranque do edpcooljazz. O angolano Paulo Flores é o cabeça de cartaz e Bonga o seu convidado. Na primeira parte toca Lura, enquanto Acácia Maior e Roda de Dois ocupam o Palco Nortada. Após mais uma breve paragem, a 5 de Julho, há concertos de Jorge Drexler, de Dandara Modesto, dos repetentes Roda de Dois e, por fim, de Marisa Monte, uma das principais vozes da música popular brasileira. E no dia 7 a cabeça de cartaz é a fadista Carminho, que cantou nestes mesmos jardins

O edpcooljazz espraia-se por Cascais ao longo de todo o mês de Julho

O edpcooljazz espraia-se por Cascais ao longo de todo o mês de Julho

Desde a primeira edição, em 2004, o outrora Cool Jazz Fest já teve muitas moradas: Sintra, Mafra, Oeiras e Cascais. É esta vila com mais habitantes do que muitas cidades que, desde 2018, recebe o edpcooljazz. E que, após dois anos sem grandes concertos pelos motivos que todos sabemos, vai voltar a acolhê-lo no sábado, 2 de Julho. O pontapé de saída é dado às 20.00 de sábado, 2, pelo Gileno Santa Trio, que vai prestar tributo a Miles Davis no palco das Cascais Jazz Sessions. Depois, já no Hipódromo Manuel Possolo, há concertos de Murta e do pianista John Legend, que vai finalmente apresentar o seu último álbum, Bigger Love (2020), depois de ter sido forçado a adiar o regresso a Portugal por duas ocasiões. Após uma breve pausa, numa semana em que todos os caminhos vão dar a Oeiras (olá, Jardins do Marquês; seja bem-vindo de volta, NOS Alive), os concertos regressam a Cascais no domingo, 10. O cabeça de cartaz é o veterano Paul Anka, crooner canadiano que conheceu o sucesso na Europa. Mimi Froes e Aníbal Zola actuam na mesma noite. Yann Tiersen reanima o edpcooljazz a 21 de Julho, depois de mais uma paragem. O compositor e multi-instrumentista francês move-se entre a música clássica, popular, experimental e folclórica, sem se comprometer com nenhuma. Kerber, do ano passado, é o seu mais recente disco. Quinquis e Mateus Saldanha Trio são os músicos que vão preparar o público para ele. A música continua a ouvir-se a 23, numa noite portuguesa com Miguel Araújo e Rui Veloso, mais T

Festival ao Largo comemora os 200 anos da independência do Brasil

Festival ao Largo comemora os 200 anos da independência do Brasil

O Millennium Festival ao Largo volta a dar música ao Largo de São Carlos entre 15 e 30 de Julho. Os concertos que, nos dias 22 e 23, celebram os 200 anos da independência do Brasil são um dos destaques da programação, grátis, assinada por Elisabete Matos, Carlos Prado e Rui Lopes Graça. A Companhia Nacional de Bailado vai abrir o festival, pela primeira vez na história, na sexta-feira, 15. O programa, que se prolonga até domingo, 17, arranca com o Concerto Barocco, com coreografia de George Balanchine, e segue com Passo Continuo, do coreógrafo italiano Mauro Bigonzetti, a partir da música de Johann Sebastian Bach. Termina com Snow, do português Luís Marrafa. A música e o canto recuperam o protagonismo na terça, 19. Acompanhada por Olga Amaro, no piano, e João Gentil, no bandonéon, a soprano Lara Martins continua a apresentar Canção, disco de 2021 onde os tangos do argentino Astor Piazzolla convivem com o fado e a música brasileira. Um dia depois, a Banda Sinfónica Portuguesa, dirigida por Francisco Ferreira, interpreta peças de Nikolai Rimsky-Korsakov, Óscar Navarro, Dmitri Shostakovich e Duarte Pestana. Nas noites de 22 e 23 de Julho, a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, com direcção do maestro paulista Roberto Tibiriçá, interpretam a abertura da ópera Fosca, de Carlos Gomes, a Bachiana Brasileira n.º 4, de Heitor Villa-Lobos, e Maracatu de Chico-Rei, de Francisco Mignone, no espectáculo que assinala os 200 anos da independência do Bras

O Neopop regressa em Agosto, mas antes faz-se a festa em Lisboa

O Neopop regressa em Agosto, mas antes faz-se a festa em Lisboa

O melhor festival nacional de electrónica e música de dança deve finalmente voltar a realizar-se em Viana do Castelo entre os dias 10 e 13 de Agosto, depois de dois anos de ausência forçada. Mas antes o Neopop desce até Lisboa, para dez horas de festa. As portas do Pavilhão Carlos Lopes abrem às 20.00 desta quinta-feira, 9 de Junho, e as colunas só se calam às seis da manhã. O cabeça de cartaz é o britânico Dax J, produtor e DJ de um techno contaminado pela bass music do seu país. Destacam-se ainda o alemão Kobosil, um dos residentes do mítico Berghain, fluente no techno áspero e robusto que é especialidade da casa; e Shlømo, criador francês de techno enformado pela dub. O menu inclui ainda dois sets back-to-back, de Cravo e Vil e Brusca e Laura. Os bilhetes para a noite Neopop Presents estão à venda online, em sites como a Ticketline, e custam 27,50€. Também podem ser comprados no próprio dia, à porta do Pavilhão Carlos Lopes. Pavilhão Carlos Lopes, Avenida Sidónio Pais, 16. Qui 20.00. Entrada: 27,50€. + Pussy Riot e outros concertos a não perder em Lisboa esta semana + Pavement e mais dez concertos a não perder no NOS Primavera Sound

Filipe Sambado, João Não e outros artistas portugueses vão estender-se no terraço do Lux este Verão

Filipe Sambado, João Não e outros artistas portugueses vão estender-se no terraço do Lux este Verão

Para assinalar a chegada do Verão, o Lux vai montar um Estendal no terraço. “Não se trata de uma corda onde pôr a roupa a secar, mas de uma série de concertos e DJ sets onde ninguém vai apanhar seca”, avisam os responsáveis pela sala de Santa Apolónia, para que ninguém vá ao engano. O arranque deste ciclo de espectáculos gratuitos chegou a estar agendado para esta quinta, 2 de Junho, mas a chuva impediu o Lux de abrir o Estendal, adiando o arranque para outra quinta-feira, 23. E até 22 de Setembro, uma quinta-feira outra vez, há mais cinco datas marcadas. O primeiro concerto, agendado para dia 23, pelas 20.00, vai ser o de Filipe Sambado, artista e intérprete a residir em Lisboa. Está desde o ano passado a trabalhar com Bejaflor num novo disco, com uma linguagem próxima da hyperpop de Sophie ou A. G. Cook, “mas também meio shoegazey”, com canções “bonitas e íntimas” – tudo palavras e referências suas. E tem andado a tocar algumas das novas canções ao vivo. É possível que torne a tocá-las no terraço, para nos deixar em pulgas. Antes e depois de Filipe Sambado, Rita Só e DJ Quesadilla vão tomar conta dos gira-discos e CDJs. Uma semana depois, a 30, é a vez de João Não e Lil Noon darem finalmente o concerto que deviam ter dado no arranque do ciclo, a 2 de Junho. A dupla de Gondomar editou no ano passado Terra-Mãe, disco superlativo onde drill, pimba e outras músicas confluem. João Não é a principal voz e quem dá mais nas vistas. Romântico e cândido, é o Daniel Johnston do trap t

Governo denuncia protocolo com Joe Berardo e avança para a aquisição da Colecção Ellipse

Governo denuncia protocolo com Joe Berardo e avança para a aquisição da Colecção Ellipse

Adeus, Museu Berardo. O Governo denunciou o protocolo assinado entre o Estado e o empresário e coleccionador de arte Joe Berardo, que se renovaria no final deste ano. O anúncio foi feito pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, na quinta-feira à tarde, durante uma conferência de imprensa no Centro Cultural de Belém, onde revelou ainda que o Estado vai avançar para a aquisição da Colecção Ellipse. Esta é uma das três colecções de arte ligadas ao extinto Banco Privado Português (BPP) de João Rendeiro. A partir de 1 de Janeiro de 2023, o Centro Cultural de Belém volta assim a assumir o controlo do centro de exposições do Museu Berardo. Após essa data, e até ser tomada uma decisão judicial, a Colecção Berardo vai continuar no centro de exposições. A prioridade do Governo, segundo o ministro, é conservar na esfera pública esta colecção de arte moderna, embora isso dependa dos tribunais, dado que a Colecção Berardo está arrestada desde 2019 na sequência de um processo judicial em que o empresário está envolvido devido a uma dívida de quase mil milhões de euros a três bancos – CGD, BCP e Novo Banco. O Estado serve neste momento como fiel depositário das obras de arte e está obrigado a exibi-las. O Museu Berardo foi criado em 2006, após a assinatura de um protocolo para a criação da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Colecção Berardo, protocolo esse que foi renovado em 2016. Agora, o Governo tinha até 30 de Junho para denunciar o contrato com Joe Berardo e evitar que ele

O jazz europeu volta aos jardins do Goethe-Institut em Julho

O jazz europeu volta aos jardins do Goethe-Institut em Julho

Já tínhamos saudades. Três anos após a 15.ª edição – e depois de um cancelamento a poucas semanas do início, em 2021 – parece que é desta que o festival Jazz im Goethe-Garten volta a realizar-se. Se tudo correr bem, o jazz europeu mais livre vai ouvir-se nos jardins do Goethe-Institut entre 6 e 15 de Julho, ao final da tarde. O Garuda Trio, dos portugueses Hugo Costa (saxofone), Hernâni Faustino (contrabaixo) e João Valinho (bateria), dá o primeiro concerto, pelas 19.00 de quarta-feira, 6 de Julho. Segue-se, um dia mais tarde, o jazz hipnótico dos suíços Schnellertollermeier, que combinam os nomes e os instrumentos de Andi Schnellmann no baixo eléctrico, Manuel Troller na guitarra elétrica e David Meier na percussão.  Uma semana depois, a 13 de Julho, sobe ao palco o quarteto de clarinetes austríaco Woody Black 4. E, no dia seguinte, os italianos Weird Box, liderados pelo saxofonista Francesco Bearzatti. Por fim, a 16, o Jazz im Goethe-Garten vira-se para a Alemanha. É lá que está a viver o celebrado contrabaixista português Carlos Bica, que vem acompanhado pelos alemães Daniel Erdmann (saxofone) e DJ IllVibe (gira-discos). Os bilhetes podem ser adquiridos nos dias dos concertos, a partir das 18.00, e custam 7€. Há descontos para estudantes, séniores, menores de idade e desempregados, ou para quem comprar bilhetes para três, quatro ou cinco espectáculos diferentes. + Jazz em Agosto continua a mostrar o que pode ser o jazz neste tempo + edpcooljazz encerra cartaz com três conc